quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Paul Stratern: Locke em 90 minutos



Paul Stratern, que foi professor universitário de filosofia e matemática na Kingaston University e é autor das séries "filósofo em 90 minutos", traduzida em mais de oito países, e a mais recente"cientístas em 90 minutos". escreveu cinco romances(entre eles A Season in Abyssinia, ganhador do Prêmio Somerset Maugham), além de biografias e livros de história e de viagens. Foi também jornalista free-lance, colaborando para o Observer, o Daily Telegraph e o Irish Times.

LOCKE (1632 – 1704) dedicou grande parte de suas horas de lazer escrevendo longas e floreadas cartas a mulheres descomprometidas, mas jamais se casou, terminando por viver num platônico ménage a trois com um membro da Parlamento e sua esposa. Lock foi o único grande filósofo a se tornar ministro de Estado, embora sua filosofia fosse revolucionária – inspirou tanto a declaração da independência dos Estados unidos como a Revolução Francesa.

Locke em 90 minutos faz parte de uma série que, através de textos irreverentes e curiosos sobre os principais filósofos, empolga o jovem leitor. Uma introdução e um posfácio situam a obra de Lock na tradição filosófica; no final do volume, um quadro cronológico apresenta as datas significativas da filosofia. Finalmente, uma seleção de citações de suas duas obras mais importantes, o Ensaio sobre o entendimento humano e os Dois tratados sobre o governo civil, introduz o leitor a suas idéias.

tradução de Maria Helena Geordane
Editora Jorge Zahar Editor
Rio de janeiro


Introdução as raízes de suas idéias

A filosofia retrocede. Começou com um universo infinito de idéias complexas, belas e muitas vezes conflitantes. Pouco a pouco, com a ajuda da intolerância religiosa, da razão e da vontade de entender, a filosofia passou a reduzir esse mundo a proporções mais compreensíveis. Tudo se tornou mais simples, mais óbvio. A filosofia regressava ao estágio em que descrevia o mundo da maneira como realmente o vemos. Com John Locke, a filosofia entra em terreno plano.

As grandes idéias são, com freqüência, óbvias. Nenhuma delas mais do que as de John Locke. Grande parte de seu pensamento seria atualmente considerado por nós como o produto do senso comum. Sua filosofia lançaria os alicerces do empirismo e de sua crença de que nosso conhecimento do mundo é baseado na experiência, além de introduzir a idéia da democracia liberal, que se tornaria a pedra angular da civilização ocidental. Pessoas que sequer sabem soletrar a palavra filosofia estão agora propensas a aceitar essa doutrina filosófica, incompreensível há pouco mais de três séculos.
Tudo isso torna a filosofia de Locke muito pouco atraente, Não existe, porém, razão para que a filosofia não devesse ser tediosa. Ao contrário, há muitos bons motivos para que ela deva ser tediosa. O problema teve início quando as obras filosóficas se tornaram interessantes e o público começou de fato a lê-las. Quem lê está sujeito a acreditar naquilo que lê e a seguir, observar o que acontece. O início do século XX permanece como terrível lembrança do que acontece quando grandes grupos de pessoas começam a olhar a filosofia com seriedade. Felizmente, a disciplina avançou muito além do estágio infantil em que se esperava que as pessoas acreditem naquilo que lêem. Mas nem sempre foi assim – e muitos filósofos mais sábios entenderam as ciladas representadas pelos leitores que efetivamente sabem o que dizem. Spinoza faz o máximo que pode para resolver esse problema, transformando suas obras em ilegíveis. Sócrates, por outro lado, decidiu que o melhor a fazer não era escrever nada. (A primeira tendência foi seguida por filósofos como Kant e Hegel; a última, por Polique, Ehreansvard e Huntingdon-Jones.) A solução de Locke era escrever filosofia tão óbvia que logo se tornasse enfadonha. Não foi sempre assim, no entanto. Seu pensamento e suas idéias foram revolucionárias em sua época e alteraram o curso da atividade de penar.
Lock foi o único dos grandes filósofos a se tornar ministro de governo, o que é revelador. Era um homem multifacetado, mas permaneceu, sobretudo coerente e prático. Sua filosofia de fato funciona – tanto para o indivíduo quanto para a sociedade como um todo.

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