sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

filosofia superior a ciência

Na universidade produtora de conhecimentos para o bem estar da sociedade nos ditames do positivismo, tem em suas entranhas o ideário da interdisciplinidade que faz o conhecimento um todo para a ampla compreensão do fenômeno da existência e os ideários da realização das potencialidades dos homens como a felicidade e a vida. O conhecimento na Universidade é dividido em partes, já que a área de percepção do mundo é muito vasta. Cada ciência estuda uma área do saber humano, como em sua pesquisa.

Porém, dentro da academia e outras áreas do conhecimento humano, há uma hierarquia entre as ciências, onde umas possuem uma posição superior as outras. Por exemplo, um controle de produção, a estatística, os estudos sobre a antropologia, servem a sociologia, a economia, ao direito etc.

A filosofia não sendo uma ciência, assume uma posição de superioridade diante de todas as outras ciências. A ciência em si busca o estudo de entidades fenomenológicas para a levarem a filosofia, que tem o poder de ver o todo e imaginar onde o homem se enquadra nisso, com o ideário ético e moral, na busca de sua realização e questionamento de seus próprios conceitos antes alicerçado.

Na obra de Hilton Japiassu “Nascimento e morte das ciências humanas”, o autor diz que as ciências são uma epistemologia. Ela busca o estudo dos entes de forma fria e sistemática, colocando o homem fora da observação, uma figura neutra que interpreta a luz da razão. A ciência é assim, e através de seus dados, a filosofia se alimenta.

O grande problema da civilização hoje, segundo Japiassu, é que as ciências se emanciparam da filosofia, onde acreditam que ela não seja mais necessária, e que a teoria científica em si já seja sua própria filosofia.
Mas o método científico em si nega o homem, é neutro. Quando tentar colocar o homem no mundo, o reduz a um ente antropológico e sem sentido em si.

Por exemplo, quando a antropologia estuda um ritual mágico entre os indígenas, não consegue ver do porque do ritual ser assim e o que ele pretende como objetivo. Quem busca isso é a filosofia.
A sociologia se prende a estudar a mentalidade, os rituais e costumes, mas não consegue perceber no interior do indivíduo, quais seus anseios que fizeram escolher e buscar para sua realização pessoal e de sua comunidade. O sentido de realização é uma busca filosófica, onde se investiga na metafísica dos costumes, o que aquele povo realmente espera cultuando algum deus e de que forma querem senti-lo e para que.

Hoje, o positivismo, que é a filosofia da ciência, que acreditava que ele seria capaz de solucionar todos os males da sociedade, está em declínio. O direito positivista, por exemplo, que acreditava que leis desprovidas de juízos de valores com a convicção que assim poderia exercer a verdadeira justiça democrática, faliu como projeto inteiramente.
O positivismo precisa da filosofa para lhe indicar o caminho, para lhe dizer o que é realmente existir e pelo que.

Na academia hoje, pelo menos no Brasil, as ciências se emanciparem da filosofia, mais por um motivo de conhecimento 'mal digerido' sobre as coisas, e até mesmo o desinteresse pelo saber que age apenas pelo retorno financeiro(puro hedonismo). E entre os estudiosos da filosofia, não conseguem beber da ciência, pelos mesmos motivos descritos.
Existe uma doutrina na academia hoje que se chama “carreirismo”. Essa doutrina apática e cabide de emprego, não produz nada de efetivo a não ser algo anti-acadêmico, que desestimula a produção do conhecimento e da própria filosofia, para um martírio, um estudo de anos sem sentido e sofrimento.

Na filosofia, muitos esqueceram de se perguntar sobre os meios para ser realmente feliz e realizados. Mas como todos temos a mesma essência da vontade(Shopenhauer), muitos se atiram nas drogas, no consumismo, nas religiões que possuem respostas fáceis, na moda, porque é mas fácil seguir o que os outros dizem, porque se todo mundo faz eu também farei(Weltanchaung, Heidegger).

O que é realmente ser feliz? Gostaria de saber essa resposta. Sei que há um axioma para isso, e sei que a vontade é uma. Porém, engraçado é que, me parece, a felicidade não está na quantidade, mas na abstinência que lhe dá intensidade. Isso é filosofia, que é nos colocar como o próprio sentido do conhecimento produzido.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá caro Rafael !

Gostei desse seu texto, apesar de iniciar discordando do mesmo.

Digo isso, porque na medida em fui avançando na leitura, pude ir acompanhando melhor o seu pensamento e entender melhor o seu ponto-de-vista, e assim passado a entrar em concordância com você.

Minha discordância inicial é principalmente com relação ao título e a uma parte do conteúdo que confirma esse título. Em certo sentido, como já disse, entretanto, concordo com você.

Permita-me explicar melhor essa discordância e também a concordância, por gentileza acompanhe-me...

Em certo sentido, a filosofia não pode ser superior à ciência. (Em outro sentido, pode ser, sim.) Por exemplo, quando tratamos de filosofia da ciência. Sem a ciência, esse ramo da filosofia não existiria. Portanto, a filosofia da ciência floresce mais ou menos paralelamente com o desenvolvimento da ciência. Se a ciência fosse um ramo sem interesse da vida, por que ocupar-se filosofando sobre ela? Por outro lado, é justamente porque existem aspectos fundamentais de nossa existência humana, aspectos por assim dizer oni-presentes, que a filosofia tem suas chamadas questões perenes. Entretanto, o fato de os filósofos divergirem em suas respostas, ou tentativas de resposta, a essas questões, demonstra que eles não enxergam a verdade do mesmo jeito.

Vamos convir que a filosofia é algo humano, ainda que vise a um entendimento do que pode estar além dos seres humanos. O filósofo é um ser humano. Ele pode querer ocupar-se do absoluto, tudo bem, mas uma filosofia que não tivesse nada a dizer sobre o relativo, sobre o cotidiano, sobre o mundo em mudança, de que nos valeria? Parece-me que não vamos discordar nesse ponto. Afinal, você demonstra no seu texto justamente esse tipo de preocupação, e inclusive conclui com uma pergunta que me pareceu muito sincera, "O que é realmente ser feliz? Gostaria de saber essa resposta." Se me permite dizer, achei muito louvável esse seu posicionamento muito franco e direto. Então acho que podemos continuar -- afinal, estou procurando buscar pontos em comum, pontos de referências compartilhados entre nós, para poder prosseguir nesse diálogo. OK?

Acredito em um ensinamento prático muito antigo, que diz que devemos ter um “desenvolvimento subjetivo com ajuste objetivo”. Isto é mais ou menos como dizer, para colocarmos a mente no céu e mantermos os pés no chão. Mais ou menos, na verdade não é bem isso, é só para dar uma idéia.

Quando você fala do positivismo como uma postura filosófica insatisfatória perante a vida, acho que concordamos. O positivismo parece que nega a pertinência dos aspectos subjetivos de nossa existência, e que justamente aquele ensinamento milenar que citei há pouco nos diz para desenvolvermos. Ou seja, devemos buscar o auto-conhecimento.

Acho que a ciência não é contrária a isso, de forma alguma. Ou melhor, depende de como definimos a ciência. E o método científico vai acompanhar essa definição de ciência. Por exemplo, se queremos alcançar algum conhecimento sobre nós mesmos, sobre nossas mentes, podemos chamar esse conhecimento de subjetivo, porque é interno a nós, não pode ser verificado externamente. Entretanto, para nós, pessoalmente, pode ser essencial e vital. Subjetivo não é sinônimo de ilusório e nem de enganoso ou duvidoso. Eu posso não saber o que se passa em sua mente, mas você pode saber com muita clareza. Então, quando buscamos esse tipo de conhecimento, desenvolveremos um método apropriado a essa busca, e uma ciência correspondente será desenvolvida, que abrange e sistematiza esses conhecimentos pertinentes à esfera subjetiva da realidade.

Neste caso, temos aí uma ciência que trata do ser humano. Talvez o behaviourismo, no campo da psicologia, negue a possibilidade ou relevância de uma ciência como essa, porque parece que negam a existência da mente, seja humana ou não. Neste caso, como poderão estudar a mente? Os materialistas terão a mesma dificuldade, pois só aceitam a existência da matéria.

Há um ditado que diz mais ou menos assim: As pessoas que dizem que algo é impossível deveriam ceder lugar para as pessoas que estão fazendo isso.

Se me permite, vou procurar expôr algo sobre a felicidade.

No nosso dia a dia, há uma alternância entre momentos nos quais experimentamos felicidade e momentos nos quais não experimentamos, ou nos quais experimentamos dor e sofrimento. “Felicidade”, na filosofia Ananda Sutram, do mestre Shrii Shrii Anandamurtii, é definida como “uma sensação mental agradável”. Isto significa que a felicidade está na esfera do conhecimento subjetivo, tal como falamos aí em cima. Esse mestre, nessa hiper-resumida filosofia, fala também de “ananda”, ou “felicidade infinita”, que é possível de ser alcançada vivencialmente ou empiricamente pelos seres humanos. Seria o estado máximo a que pode aspirar e atingir um ser humano, e é idêntico com a máxima auto-realização ou auto-conhecimento humanos.

Vamos falar mais disso oportunamente, OK ?!

José Guilherme disse...

I. O fanatismo religioso é um dos grandes responsáveis pela maioria dos flagelos e atrocidades da humanidade em todos os tempos.
josguilhermefilho@yahoo.com