quarta-feira, 1 de abril de 2009

A vontade, a ética e o ideal

A ética como todos os outros assuntos da filosofia não escapa a metafísica. Vou tentar expor o porque.
O homem possui vontade. A vontade não pertence a razão, mas é um pulso cósmico no qual nossa consciência é seu invólucro.
A vontade é infinita, pois todos os objetos de seu alcance possuem a pergunta do porque de serem desejados. A vontade nunca para de querer. Logo, a vida do homem é uma angústia constante de desejo.
Mas o que é vontade propriamente dita? Parece ser um termo um pouco difuso para conceitualizar essa pulsação cósmica.
Eu entendo que o homem tem vontade de prazer, vontade do ápice do prazer, o orgasmo. Essa é a natureza da vontade que pulsa a direção do homem em busca de suas realizações, e por conseqüência a civilização como contrato social.
Mas a vontade pura, é selvagem e egoísta e sem o devido freio suas paixões devastam o seu meio ambiente. Pois é assim o mesmo vida na floresta, ordem não há e os animais vivem caçando uns aos outros, não há provisões, não há paz nem lei que garanta a vida. As plantas disputam freneticamente o espaço ao sol, sobrevivendo os mais fortes até que esses sejam derrotados. Não há tranquilidade na selva senão morte constante.
Entre os homens, através de sua consciência, determinaram a moral,ética e a lei como institutos de limite da vontade individual em favor da vontade coletiva.
Assim nasce o princípio de eqüidade, de justiça, do direito, onde essa cultura organiza a sociedade limitando numa justa medida o impulso da vontade.
A questão de vontade e lei é amplamente trabalhada na filosofia e no direito propriamente dito, sendo a ética e sua variante e a política onde se discute a validade e a efetividade da ética, moral e a lei, determinando a organização do trabalho na sociedade, do trato pessoal com os outros e com o coletivo etc.

A partir disso chego numa questão elementar da metafísica da étic,a que é o ideal. Ele é o ápice do tratado político que trata sobre a ética sobre como a sociedade poderia se organizar para alcançar a felicidade suprema, o Sumo bem. Qual o ideal para se viver? Ao relembrar Platão, podemos ter um conceito do que seja o ideal na alegoria do mito da caverna que todos já devem saber do que trata.
Platão diz que o ideal é algo perfeito e que está dado no universo, senão efetivamente está abstratamente no mundo dos ideais. Esse mundo é perfeito e belo matemáticamente falando. Seus parâmetros são eternos e universais.

Porém, os homens em geral não contemplam a natureza ideal do cosmos, vivendo apenas no mundo das aparências imperfeitas, não se perguntando pelo perfeito. As pessoas não vivem a plenitude de sua vontade, mas sofrem por estarem presas em suas crenças, em seus ídolos, em seu ego inflado que lhes cega o contemplar do perfeito.
O ídolo é o contrário de idéia, é uma forma imperfeita daquilo que É. O mundo ideal está num nível superior a dos homens.

Eu entendo nesses conceitos metafísicos que se o homem perceber que o mundo em que vive é mera aparência imperfeita do ideal, ele estará pronto a transcender a busca do que é perfeito. Nesse momento, sua ética será moldada a ponto de poder fazer sua vontade verter com mais intensidade no ápice do orgasmo, num legítimo estado de adoração com o Ser perfeito.

Ética e espiritualidade

Conforme minha análise sobre a entropia do Universo, a natureza da origem do Universo é um paradoxo insolúvel. O Universo move o todo, e o todo múltiplo aspira sua potência perpétua. A vontade é uma emanação direta da potencialidade divina no qual o ideal nos mostra o caminho do não-esquecimento, quando a imperfeição gnóstica ofuscar a mente no esquecimento, perdição de si mesmo.
A busca pelo ideal é uma busca espiritual pelo ápice do prazer, máxima emanação da vontade e sentido perfeito de ser do pulso cósmico que é a vontade.
Espiritualidade é o exercício de transcender também na percepção sobre a físico-material do mundo, pois a realidade material também é uma aparência imperfeita do Ser.
Logo, um dos procedimentos que conduze-nos a perfeição é o estudo da matemática, pois esta, uma derivação perfeita da lógica(logos) faz-nos contemplar as verdades eternas e universais, nos ajudando a reconhecer o logos do mundo e transcender a adoração do que é perfeito e maravilhoso Ser enquanto Ser.

Sto Agostinho, apesar de ser cristão e estar preso a certos dogmas mitológicos da cosmogonia judaica, conseguiu expressar um belo tratado de espiritualidade que é mais ou menos assim:
Amor é desejar, então amor é estar angustiado por querer o que não tem. Mas o homem que ama pode alcançar o bem que almeja e que supra a vontade. O Amor então se transforme decerto modo em posse, no qual o homem agora teme em perdê-lo, perpetuando a angustia. O homem sabe que vai morrer, e a morte é o mal maior, o prejuízo absoluto que nos tira o bem que temos.
Então para Agostinho não há como ter uma felicidade ideal amando as coisas do mundo, senão amando a Deus que é eterno e não morre. Deus que é a vida e fonte de todos os bens.
Agostinho nesse sentido nos mostra que o amor as coisas espirituais são superiores as coisas materiais que são meras cópias do que é perfeito.

Por isso entendo que aquele que analisa com seriedade a filosofia, amando a verdade acima de tudo, saberá que a filosofia é uma busca esotérica de ser feliz, de se enquadrar perfeitamente com o ritmo cósmico.

Concluo esse texto com a inscrição do templo de Delfos que acredito estar em sintonia intelectual com o que disse:

«Advirto-te, sejas quem fores...Tu! Que desejas sondar os arcanos da Natureza, se não encontras dentro de ti aquilo que procuras... tampouco o poderás encontrar fora.Se ignoras as excelências da tua própria casa, como poderás encontrar outras excelências?Em ti se encontra oculto o tesouro dos tesouros!Homem!... Conhece-te a ti memso e conhecerás o Universo e os Deuses.»

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