sexta-feira, 3 de abril de 2009

O mito de Adão e Eva em relação a reminiscência platônica

Platão era um filósofo. A filosofia sempre nos leva ao conhecimento esotérico a descoberta de nós mesmos e nós no Universo. Nesse sentido, não existe muita diferença entre a cosmogonia mítica e a filosofia, pois a última possui o logos e mesmo assim se preocupava com o homem no mundo.
Entre os comentadores de filosofia e mitos, é comum dar uma explicação superficial e até esteorotipada e até enciclopedicada do sentido de um mito, fazendo se perder o sei ideal. O mito é uma explicação profunda e ideológica pelo sentido do sers da existência e sua finalidade axiomática, porém imaturamente sem o logos.

O mito de Adão e Eva contido no livro de Genesis, na bíblia, é um dos mitos mais incompreendidos ontologicamente, seja sendo simplificado demais pelos religiosos sem muitas preocupações metafísicas e fundamentais ou negado e ultrajado pelos céticos e ateus de carteirinha.

Vou tentar aqui expor conforme minha intuição, entender o significado desse mito de proporções místicas de quase teor filosófico na proposta de felicidade e realização sincera da humanidade.

O mito

Deus, a pura força espiritual, a Consciência Suprema, retira de si mesmo o Verbo e fez a luz. Depois disso, os demais entes foram criados e por fim o homem, ser muito importante dessa criação do qual Deus fez fecundando com seu sopro o barro da terra.
Deus fez a mulher ao homem para que esse não ficasse só, pois o homem, imagem e semelhança de Deus, necessitava de uma mulher para fecundar como Deus fizera com a terra concebendo a Adão.
Tudo era perfeito nesse mundo, e Adão e Eva viveram de forma plena no ápice da comunhão com Deus e nirvana. Deus é feliz por sua criação que recebe seu amor e se sente feliz também por isso.
Mas uma coisa havia no jardim da perfeição, o Éden, que era a sabedoria do bem e do mal.
O mal é um Elemental que existe entre os digestos de Deus, razão no qual a mente das criaturas não podem entender o porque de sua origem, como não podem entender a própria origem da pleni-existência de Deus.
Deus advertiu a Adão que não comesse do fruto senão certamente morreria. O conhecimento do mal, então, era a morte. A morte que é má é um elemento necessário a manutenção temporal do universo, no qual Deus reservou o homem puricidado dos seus efeitos somáticos no devir cósmico.
Eva seduzida pela serpente, sugerindo uma ilusão de que ao conhecer a morte, não morreria de fato, mas seria igual ao Eterno, prova do fruto e lhe dá a Adão desfrutar de seu mortal sabor.
O homem então, primeiramente morre em seus sentimentos de união com Deus, onde os dois se escondem e sente vergonha. Adão, com o sentimento de culpa que lhe esconde a felicidade de si mesmo, diz a Deus:”foi a mulher que me destes.” Num ato de blasfêmia e inverdade contra o criador.

A morte logo atinge seu segundo estágio no homem. O Éden se torna estéril, pois a morte atinge a capacidade do homem sentir a perfeição e dela colher frutos divinos. É morte espiritual onde o homem morre para a plenitude do paraíso para ter agora que trabalha para viver, sofrer para vencer a morte, o mal que ele é conhecedor inconteste.
O terceiro e último estágio é a morte do corpo, onde Adão e Eva esgotam o animus diante do mal e voltam ao pó de onde vieram, anteriormente feitos para viverem para sempre.

Ontologia do mito

O poético canto do fruto do bem e do mal do jardim do Éden tem uma equivalência arquétipa com a filosofia de Platão, como no Mito da Caverna, e a teoria da reminiscência, como no rio Lethes, do Hades, na mitologia grega sobre a transmigração das almas, obtida os cultos órficos-pitagóricos que vieram a influenciar a Platão.
A alma que transmigra e reencarna, bebe ou não da fonte do rio Lethes que faz esquecer de si mesmo aquele que o ingere. As pessoas que bebem da fonte são aquelas dominadas pelas paixões idólatras, pois quando a dor e o desespero de existir não é superado devido a dor gerada pela paixão frustrada ou perdida, preferem esquecer e recomeçar tudo, ignorando a perfeição e o aprendizado com seus próprios erros.
Os que preferem uma vida serena e de auto-descoberta transcendental nos infinitos mundos que se sobrepõe, a alma não toma da fonte do esquecimento, preferindo a verdade, a idéia, o não esquecimento(Alethéa), reencarnando com entendimento sobre o verdadeiro sentido de existir, adquirido na contemplação do ideal perfeito revelado no Hades.
Voltado aos hebreus, quando Adão come do fruto, ele decai, ele se esquece de como ser feliz devido a sua culpa e também a morte que traga.
A morte é entrópica e irreversível. Ela é o mal absoluta que tira todas as esperanças de se viver em plenitude. O homem não pode amar intensamente sua vida por medo de perde-la em algum sinistro da vida, como a velhice, e atormentado pelo medo, o amor para com a mulher não se torna sublime como outrora, onde o orgasmo não mais alcança seu ápice ao infinito.

No mito hebreu então, estar nesse mundo onde agora o homem precisa trabalhar para retardar a morte e extrair a escassa felicidade, é o mundo do esquecimento, no qual Deus, sendo a vida, chama ao homem lhe dizendo seu projeto de fazer com que o homem relembre ser feliz, relembre como deixar fluir a totalidade de sua vontade sem culpa ou apego a algum ídolo que substitua o sentido ideal de ser , relembrando que somente amando a Deus que é eterno, a morte não o vencerá, usando da própria sabedoria adquirida agora, porém de modo reverso, na procura de reconhecer a vida, provar do bem e felicidade esquecida, e se deixar fluir novamente com a presença divina que lhe tira o sentimento de culpa, o medo da morte e a liberação total no alcance do prazer divino.

Por todos esses elementos expostos, que eu acredito ser o mito de Adão e Eva um mito místico transcendental de profundo sentido esotérico, mostrando que a felicidade, como dizia Platão, não está somente na sensibilidade da percepção aparente no qual não mostra o realidade do ser, mas num alcance transcendental ao ideal supremo.
Não temos a contemplação perfeita do Ser devido as paixões idólatras que conhecemos sob o fruto da morte, que por sua natureza sedutora, por seu mistério, conduz ao homem a experiências cósmicas antecipadas, inesperadas e fatais.
O mito, tentando demonstrar a natureza do sofrimento de existir, não o faz de forma tosca e supersticiosa, mas nos envolve em tal conjuntura de sentimentos que de forma verdadeira, demonstra simbolicamente que a natureza do sofrimento humano está no esquecimento do transcendental, no desprezo pelo auto-conhecimento, no apego a idolatrias que são meias verdades porém sedutoras por seu mistério, muitas vezes oculto pelo fato do homem decaído ser esquecido do perfeito ideal.

Zoomorfismo

No gênesis, a serpente não é apresentada ao leitor como um espírito mal. Se fosse, ela seria desde já nomeada como Satanás, inimigo lendário na saga bíblica. Mas porque tal zoomorfismo no relato poético da bíblia?
Ora, eu entendo ser uma questão de períodos históricos no qual o povo hebreu vivenciou. Esse povo é natural da Mesopotâmia, onde os hebreus praticavam o culto a vários deuses, porém, sendo com Abraão, conforme a bíblia, o apego ao monoteísmo.
Foi Moisés quem escreveu o Pentateuco, e acredito, fazendo as devidas depurações dos entes mitológicos de seus primos semitas. Porém, o arquétipo da serpente é uma evidencia de que os hebreus possuíam em sua origem remota, as mesmas crenças que o zoodíaco Sumério.
Uma outra evidência é a própria presença do calendário zoodíaco para marcar as eras do povo hebreu. Por exemplo:
Adão e Eva representam o signo de Gêmeos, onde esse ciclo termina com Caim e Abel e iniciando na ordem do calendário, a era de Touro. A era de Touro termina com Moisés e com a lei dos Dez mandamentos, onde o bezerro de ouro decai no abismo marcando seu fim. Iniciasse então a era de Áries ou carneiro, onde Deus revela os rituais de expiação dos pegados no sacrifício do carneiro no Tabernáluco do Senhor.
A era de Áries termina com Jesus Cristo, o cordeiro de Deus que morreu por nossos pecados. Inicia se então a era de peixes. O símbolo do cristianismo é o peixe, como Pedro, o pescador de homens.
E por último Aquário, onde ciclicamente viria o Senhor Jesus julgar as nações e arrebatar os eleitos para viverem imersos na plenitude do paraíso. Aquário é representado por um homem que derrama água de um tipo de balde ou jarro. Isso pode ser associado com o derramamento da ira de Deus.
A serpente, por sua vez, representa as entranhas da terra anímica, onde a astúcia da serpente hipnotiza a Eva como faz com suas vítimas na sua cadeia alimentar.

6 comentários:

Clara Cor... disse...

Não concordo que isto seja um mito, relativizar a origem do homen a uma toria Platonica, é uma distorção do não observação do que é real.

Sugiro observar melhor a Bíblia e pequisar sobre ela vera que existe provas seficientes que provam que não é um mito a Criação descritas em Genesis.

Anônimo disse...

ahahah... belo comentário acima.
Tapada :)

GROTTI disse...

Belo texto!!
Um excelente exercício trazer essa comparação.
Conheço outras origens do mito, que também são excelentes para um possivel estudo.
Como buscar o significado dos nomes de Adahin e Efahin e o significado de cada símbolo dessa linda poesia mítica. (a árvore do conhecimento do BEM e do MAL, ou seja, a MORAL, a SERPENTE e o próprio PARAÍSO); não podemos nos esquecer de que gênises fora um poema. O último livro do cânone escrito pós Babilônia, portanto recheado de arquétipos fora da origem da cultura hebraica... Enfim, gostaria de falar mais sobre isso...mas gostei mesmo do seu texto. Parabéns!

GROTTI disse...

Só pra atiçar um pouco sua pesquisa, ou textos futuros, copiei e colalei aqui, um link com um texto ótimo que também achei na net...
Mas ainda conheço outra versão tão interessante qto essas...

Boa leitura!

http://ateusdobrasil.com.br/p/1145/

GUST99 disse...

A explicação do mito, para mim é bem mais simples e menos rebuscada do que a aqui apresentada .
É uma tentativa de resposta para o sofrimento e a morte .Deus o criador nunca poderia ser o culpado dessas incompreensíveis contingências .
Trata-se de uma história possível de ser contada naquele tempo com alguma eficácia explicativa(aos nossos olhos uma simples história naife),em que se pretende conjugar a omnipotência e todos os outros atributos de Deus, com a incompreensível miséria humana .
Claro que ficou bem patente quem arcou com a culpa . Já naquele tempo os homens estavam convencidos de um outro grande mito, o de que o homem funcionava a partir do seu alegado livre arbítrio .

Anônimo disse...

Essa interpretação sua mais "naife" já foi há muito superada. os mitos guardam sentido muito mais profundo q simples tentativas de lidar com medos fundamentais humanos. Claro a essa pode ser uma das interpretações, mas a mais superficial. Aliás, os mitos estão ancorados em símbolos, que diferentes das simples metáforas, guardam camadas de significados. A mais superficial vai sempre ter um significado externo, seja cosmogônico ou social, mas se aprofundando verá q versa sobre questões complexas da ecistência e do indivíduo em si.