quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Poemas escolhidos





Os Versos que te fiz



Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


(Florbela Espanca)

Desassossego

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer num humanismo racional, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comumente se chama a Decadência. A decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia. A quem, como eu, assim, vivendo nã0 sabe ter a vida, que resta senão, como poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação estética por destino? E assim, alheio à solenidade de todos os mundos, indiferente ao Divino e desprezadores, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito.

(Fernando Pessoa)

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