terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Rei Midas e sábio Sileno


Segundo o filólogo e filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 - 1900):

"Reza a antiga lenda que o rei Midas perseguiu o sábio Sileno na floresta, durante longo tempo, sem conseguir apanhá-lo. Quando, por fim, ele veio a cair em suas mãos, perguntou-lhe qual dentre as coisas era a melhor e a mais preferível para o homem. Obstinado e imóvel, calava-se; até que, torturado pelo rei, prorrompeu finalmente, por entre um riso amarelo, nestas palavras: - Estirpe miserável e efêmera, filhos do acaso e do tormento! Por que me obrigas a dizer-te o que seria para ti mais salutar não ouvir? O melhor de tudo é para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser. Depois disso, porém, o melhor para ti é logo morrer"

(Nietzsche, O nascimento da tragédia).

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Poemas escolhidos





Os Versos que te fiz



Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


(Florbela Espanca)

Desassossego

Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer num humanismo racional, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comumente se chama a Decadência. A decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia. A quem, como eu, assim, vivendo nã0 sabe ter a vida, que resta senão, como poucos pares, a renúncia por modo e a contemplação estética por destino? E assim, alheio à solenidade de todos os mundos, indiferente ao Divino e desprezadores, entregamo-nos futilmente à sensação sem propósito.

(Fernando Pessoa)